O que poderia acender com a eletricidade gerada pelo seu cérebro

 Alguma vez lhe perguntaram que poder gostaria de ter se fosse um super-herói? Ou que habilidade especial pediria ao génio da lâmpada? Talvez as suas possíveis respostas incluam a invisibilidade, a possibilidade de viajar no tempo, a capacidade de voar ou até o poder de controlar certos elementos, como a água, a terra ou a eletricidade. O mais curioso é que, se a sua resposta foi esta última, não tem de pedir nenhum desejo: o seu corpo já é capaz de produzir eletricidade.

Parece-lhe surpreendente? O seu cérebro, esse órgão essencial para o organismo enquanto um todo, que lhe permite pensar, recordar e sonhar, é também uma autêntica central eléctrica. Todos os dias, a todas as horas, gera impulsos eléctricos que mantêm em marcha cada um dos processos que ocorrem no interior do nosso corpo. Mas o que aconteceria se pudéssemos aproveitar toda essa eletricidade para acender coisas? Será realmente possível fazê-lo?

UMA CENTRAL ELÉCTRICA COMPLEXA

Se estiver a interrogar-se como é possível que o cérebro consiga gerar tanta energia, a resposta está nos neurónios. Este órgão contém até 86 mil milhões de neurónios e a sua linguagem é precisamente a eletricidade. Por outras palavras, os neurónios comunicam entre si através de sinais eléctricos e químicos. Quando um neurónio quer comunicar com outro, tem apenas de gerar um pequeno impulso eléctrico, conhecido como potencial de ação.

Este impulso é capaz de viajar através das células até chegar à ligação com outro neurónio, onde liberta neurotransmissores, substâncias químicas capazes de transmitir a mensagem ao próximo escalão da rede neural. Simplificando, é como se o cérebro estivesse cheio de lâmpadas que piscam de forma constante.

De onde vem essa eletricidade? A resposta está nos iões, pequenas partículas com carga eléctrica se deslocam dentro e fora dos neurónios. Graças a esse movimento, os iões são capazes de criar uma diferença de carga, funcionando de forma parecida ao interior de uma bateria. Por conseguinte, quando milhões de neurónios trabalham em simultâneo, são capazes de gerar uma quantidade enorme de eletricidade.

Neurónio observado ao microscópio.© Faculdade de Medicina da Universidad de la República

UM GERADOR HUMANO

Embora esta analogia possa dar a entender que a eletricidade gerada não pode ser assim tanta, a verdade é que é imensa. Um cérebro humano é capaz de produzir, em média, cerca de 20 watts de energia em estado de repouso. Se não faz ideia do que isto significa, podemos fazer uma analogia: é eletricidade suficiente para acender uma lâmpada LED de baixo consumo. Sim, quase como as que aparecem em cima da cabeça das personagens dos desenhos animados quando têm uma ideia.

Por outras palavras, se alguma vez se interrogou sobre o que mantém o cérebro ativo ao longo de todo o dia, agora já sabe: é a sua própria eletricidade. E sim, 20 watts pode não parecer grande coisa, mas se somarmos a eletricidade gerada ao longo de todo o dia, estamos a falar aproximadamente em 480 watts/hora, um valor se aproxima da energia da bateria de um telemóvel completamente carregada. Teoricamente, seria possível carregarmos o nosso telefone utilizando apenas a energia eléctrica produzida pelo nosso cérebro num só dia.

A eletricidade gerada pelo nosso cérebro em estado de repouso é suficiente para acender uma lâmpada LED de baixo consumo.© iStock

Outros exemplos bastante curiosos do que poderia fazer com essa eletricidade são alimentar um router wi-fi ou fazer funcionar vários rádios ou relógios digitais durante semanas. Infelizmente, embora essas comparações possam ser úteis para visualizarmos o nosso potencial eléctrico, devemos ter em conta que o nosso corpo não está desenhado para a extração e utilização dessa energia por dispositivos externos.

DE USO PESSOAL E INTRANSMISSÍVEL

Posto isto, é possível que esteja a interrogar-se de que estamos à espera para aproveitar toda essa energia. Temos de lhe dizer que isso não é possível. Primeiro, porque não é um excedente que possamos recolher, tratando-se de uma parte essencial do nosso funcionamento – a sua extração poderia afetar a nossa capacidade de pensar, de nos deslocarmos e até de vivermos. Além disso, embora 20 watts possa parecer muito, essa energia está distribuída por milhões de neurónios, o que torna impossível a sua recolha eficiente sem alterar o rendimento do cérebro.

Existem ainda outros problemas, nomeadamente a ausência flagrante de um mecanismo de extração viável. Para aproveitar essa energia, seria necessário desenvolver algum tipo de implante invasivo, o qual interferiria de forma direta com o funcionamento do cérebro, algo que seria perigoso e pouco prático. Como se isso não bastasse, devemos ter em conta que o cérebro consome a energia de forma imediata, sem a armazenar, razão pela qual não existe um “depósito” que possamos aproveitar.

Em suma, embora a ideia pareça interessante e apetecível, o nosso cérebro já consome a sua eletricidade, para fazer algo muito mais precioso do que carregar a bateria de um telefone: manter-nos vivos e permitirmos pensar sentir e existir.

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