O que é a neuropsicologia? 7 perguntas para entender o que fazem os profissionais que ajudam a detectar doenças mentais e neurológicas
O que é a neuropsicologia?
É uma área da saúde que junta a psicologia, a neurologia e as neurociências. Estuda a estrutura e funcionamento do cérebro e a forma como influenciam o comportamento, as emoções e os processos cognitivos (capacidade intelectual, de compreensão e aprendizagem).
Através da neuropsicologia é possível avaliar, diagnosticar e reabilitar alterações cognitivas e comportamentais provocadas por lesões ou disfunções cerebrais, causadas por doenças neurológicas, como o AVC ou a doença de Alzheimer, ou por doenças e perturbações psiquiátricas, como a esquizofrenia, depressão, ou Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção, entre outras.
Como se faz uma avaliação neuropsicológica?
Através de uma conversa na qual o profissional recolhe informações como as queixas ou sintomas, os diagnósticos ou exames anteriores. Durante esta entrevista, o neuropsicólogo também observa o comportamento da pessoa.
Consoante tudo isto, são usados testes que permitem examinar o que é pretendido e que mudam consoante o motivo da consulta, as queixas da pessoa, a idade e a hipótese de diagnóstico. “São instrumentos específicos que nos permitem avaliar, de forma quantitativa, a atenção, memória, linguagem, perceção visual, raciocínio lógico, etc, mas também o funcionamento psicológico, emocional e comportamental”, diz a neuropsicóloga clínica Diana Silva. “Em média precisamos de quatro a oito sessões para conseguirmos realizar uma avaliação fidedigna.”
Com base nos resultados destes testes é possível “perceber e quantificar as funções que estão comprometidas, como as dificuldades a nível cognitivo, comportamental e emocional e que impacto têm no bem-estar da pessoa”.
O neuropsicólogo faz depois um relatório detalhado de todas estas conclusões, que o paciente pode entregar a outros profissionais que o acompanham e/ou que pediram a avaliação, como psiquiatras, neurologistas ou outros psicólogos.
Quais são os problemas mais frequentes em consulta?
As doenças mentais são mais associadas a problemas ou dificuldades emocionais e comportamentais, mas podem ter também um grande impacto nas capacidades cognitivas. “As dificuldades de concentração, memória ou problemas de aprendizagem podem ser causadas, entre outros, por depressão, ansiedade ou problemas de sono”, explica a neuropsicóloga. Também doenças menos frequentes, mas geralmente mais graves, como a Peerturbação Bipolar ou as perturbações da personalidade podem causar este tipo de alterações nos processos mentais.
“Além disso, podem existir mudanças comportamentais, como desmotivação, procrastinação, desorganização que têm impacto na vida da pessoa e, muitas vezes, na dos outros.
Quais são as áreas de intervenção da neuropsicologia?
A neuropsicologia intervém na avaliação e na reabilitação de pessoas com doenças neurológicas e/ou mentais. Por outro lado, diz Diana Silva, o neuropsicólogo também pode trabalhar…
- … em contexto forense, “com a avaliação de testemunhas e réus” em processos em tribunal…
- … em contexto pediátrico, “focando-se nas perturbações do neurodesenvolvimento”…
- … em contexto geriátrico, “que se foca nas questões relacionadas com o envelhecimento”…
- … no treino de competências para melhorar funções cognitivas, sem haver nenhuma doença associada.
Quanto tempo dura o tratamento?
Depende do problema. Da mesma forma que acontece com a psicoterapia, o processo pode ser relativamente breve —apenas alguns meses — ou durar anos. “A duração dos tratamentos em neuropsicologia é bastante variável e individualizada. Depende sempre da complexidade do caso, das dificuldades, da motivação do paciente e, claro, da evolução ao longo do tratamento.”
A neuropsicóloga explica que tipicamente, “nas doenças do envelhecimento [como a demência] é natural que sejam intervenções duradouras comparativamente a um tratamento psiquiátrico, como a depressão ou ansiedade”.
Por outro lado, nas intervenções com crianças, a duração da intervenção depende geralmente da gravidade do caso. “No caso de crianças em desenvolvimento com dificuldades de aprendizagem, onde o objetivo é melhorar o desempenho académico, comportamental e social é esperado que o acompanhamento dure menos tempo do que em perturbações mais severas.”
A neuropsicóloga frisa ainda que o plano de reabilitação vai sendo ajustado e discutido com o paciente — e/ou família — e que além do trabalho realizado em consulta é muito importante que seja realizado “trabalho de casa”, ou seja, que o paciente vá fazendo exercícios fora do consultório, na sua vida diária…
As capacidades cognitivas podem ser melhoradas?
Sim. Mas, antes disso, podem e devem ser mantidas, de forma a criar a chamada reserva cognitiva. “Uma mente continuamente exercitada, estimulada, criará uma reserva que vai ajudar a retardar e/ou prevenir o declínio natural e expectável com o avançar dos anos”, explica a psicóloga.
No entanto, quando estas capacidades entram em declínio, seja por haver uma lesão cerebral, uma doença neurológica ou mental, a neuropsicologia consegue traçar um plano de intervenção personalizado que responde às dificuldades que existem, “de forma a ajudar o assim o paciente a lidar ou a superar as suas dificuldades”.
Isto é possível, diz a neuropsicóloga, graças à neuroplasticidade cerebral: “a capacidade que o cérebro tem para se reorganizar e criar novas ligações neuronais para reverter e/ou recuperar funções cerebrais”, que torna possível “adaptarmo-nos a novas aprendizagens e colmatar alguns danos”.
E como pode a neuropsicologia ajudar a regular comportamentos ou emoções?
Os neuropsicólogos com formação para isso podem também usar outras abordagens de intervenção para ajudar os pacientes a lidar com questões emocionais e comportamentais, como a terapia cognitiva-comportamental (TCC) ou psicoeducação.
“Podemos trabalhar medos, fobias, impulsividade, tomada de decisão, gestão de conflitos ou comunicação com os outros, e usamos um conjunto de técnicas para promover a autorreflexão, a consciência e autorregulação emocional, técnicas de relaxamento, para a gestão do stress e da ansiedade, de exposição ou estratégias para lidar e a superar desafios difíceis da sua vida.”


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