Doença Venosa Crónica: como prevenir e como atuar no verão

 

Praia | Fotografia: Pexels© VERSA

O verão é sinónimo de calor (por vezes com temperaturas inesperadas) e, em alguns casos, é também sinónimo de pernas inchadas, com dor e sensação de peso. Quando isto acontece é sinal de que algo não está bem, podendo tratar-se de uma patologia que afeta 35% da população portuguesa, especialmente mulheres. Falamos de Doença Venosa Crónica (DVC).

A DVC é uma condição médica que afeta o sistema venoso, especialmente das pernas, estando relacionada com um funcionamento deficiente das válvulas das veias. Sabe-se que afeta sete em cada dez mulheres com mais de 30 anos, com especial atenção para mulheres grávidas, que podem desenvolver DVC durante o período de gestação. 

Mas o que fazer para prevenir a Doença Venosa Crónica (DVC)? Foi essa uma das questões que fizemos a Joana de Carvalho, médica especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular. A especialista enumera os cuidados que devemos ter no dia a dia, entre os quais está o exercício físico, embora não seja a única medida a ter em conta. 

Para que o verão não se torne no teu maior inimigo, tudo o que deves saber sobre a Doença Venosa Crónica. 

Dra. Joana de Carvalho, médica especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular


Porque é que o calor típico do verão tende a agravar os sintomas da Doença Venosa Crónica?

O calor provoca uma dilatação das veias, exacerbando as queixas habituais da DVC: inchaço, dor e sensação de peso.

Quais são os principais sinais e sintomas que devem levar uma pessoa a suspeitar de Doença Venosa Crónica?

Relativamente aos sintomas, destaco a sensação de peso nas pernas, a dor e o inchaço que ocorrem tipicamente ao fim do dia, agravando-se ao longo do dia e com longos períodos em pé ou na posição sentada. A altura do verão e o período menstrual podem também exacerbar as queixas.

Relativamente aos sinais: o aparecimento de derrames (“vasinhos” ou “aranhas vasculares”) ou varizes (veias dilatadas e tortuosas) nas pernas são os mais comuns. Em situações mais arrastadas no tempo e, portanto, de maior severidade, podem surgir alterações na pele, como pigmentação, fragilização cutânea e até mesmo aparecimento de feridas que tardam muito em cicatrizar (úlceras de perna).

Existe algum grupo de risco específico que deva estar particularmente atento ao desenvolvimento desta condição?

Os principais grupos de risco para doença venosa são familiares diretos de quem tem a doença uma vez que a hereditariedade é um dos principais fatores de risco.

Quem passa muito tempo em pé ou, pelo contrário, muito tempo sentado também está mais predisposto.

As grávidas, pela questão hormonal, mas também mais tarde na gravidez devido ao peso do útero gravídico, podem desenvolver varizes pela primeira vez ou agravar as já existentes.

A toma da pílula agrava o risco de desenvolver Doença Venosa Crónica?

A toma da pílula por si só não leva ao desenvolvimento de varizes, mas pode agravar sintomas ou aumentar o risco de complicações, como o desenvolvimento de tromboses venosas em quem tem predisposição.

A Doença Venosa Crónica pode afetar a gravidez?

A doença Venosa pode tornar a gravidez menos confortável e menos segura pelo risco acrescido de complicações. Na gravidez, a normal circulação venosa das pernas é comprometida pelo peso do útero gravídico. Assim, as gestantes podem sentir mais dor nas pernas, mais edema e podem desenvolver varizes de novo ou agravar as varizes pré-existentes.

Que medidas preventivas simples recomenda para atenuar os sintomas ou evitar a progressão da doença durante os meses mais quentes?

Uma das medidas mais importantes é manter um peso adequado. Sabemos que a obesidade, pelo aumento da pressão intra-abdominal, provoca uma diminuição do retorno venoso agravando todos os sintomas de DVC.

A prática de exercício é crucial pela ativação do efeito de bomba muscular – o coração das pernas – que irá ativar a circulação venosa melhorando de forma significativa a sintomatologia. Todos os exercícios são benéficos, mas aqueles que se caracterizam por um movimento cíclico e ritmado dos músculos da barriga da perna têm benefícios acrescidos (bicicleta, caminhada, elíptica). Também os exercícios praticados na água são particularmente benéficos pois beneficiam do efeito da pressão hidrostática, que diminui significativamente o inchaço. Assim, há que aproveitar as férias, a possibilidade de ir à praia ou piscina para se exercitar na água.

E o que fazer em contexto de férias ou viagens longas?

Nas férias, as viagens mais prolongadas podem predispor, pela imobilização na posição sentada, o agravamento dos sintomas de doença venosa. Nestas situações, sugiro parar frequentemente para uma caminhada (nas viagens longas de carro), levantar-se frequentemente durante viagens de avião e comboio e movimentar os pés de forma circular e/ou para cima e para baixo de modo a ativar os músculos da barriga da perna. Em qualquer das situações é importante hidratar-se bem.

O uso de meias de compressão é eficaz mesmo durante o verão? Como podem ser incorporadas na rotina sem causar desconforto?

Talvez seja durante o verão que as meias apresentam maior benefício pois vão ajudar a contrariar o inchaço. Contudo, devido ao calor podem tornar-se algo desconfortáveis. Felizmente, há já opções no mercado de malhas mais finas e mais adequadas ao tempo quente.

Qual é a importância de um diagnóstico precoce da Doença Venosa Crónica?

O diagnóstico precoce é uma medida crucial na prevenção da progressão da doença e desenvolvimento de complicações. A doença venosa é uma doença que progride em cerca de 32% dos pacientes ao longo de vários anos. As varizes, por si só, têm uma taxa de progressão de 22% para úlceras de perna num período de 6 anos.

A prevalência das úlceras é de cerca de 1% na população geral, subindo para 3% para a população acima dos 80 anos. Estas úlceras são feridas que demoram muito a cicatrizar, sendo que 7% ainda não cicatrizaram ao fim de 5 anos, com o impacto na qualidade de vida e abstinência laboral que tal implica.

A Doença venosa vai muito mais além de beleza e de estética das pernas. Aqui, provavelmente mais do que em qualquer área, a saúde e beleza andam de mão dadas.

Deste modo, para a consciencialização da população sobre impacto da Doença Venosa Crónica, está também a ser lançada a campanha de sensibilização #LegsFirst, com presença digital e rastreios em farmácias de norte a sul do país, incluindo Açores e Madeira.

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