Lipedema: nove questões sobre a doença que afeta milhões de pessoas

 Embora o lipedema tenha sido oficialmente reconhecido como doença pela Organização Mundial de Saúde (OMS) há menos de uma década, esta condição afeta milhões de pessoas. Rita Valença, especialista em cirurgia plástica, reconstrutiva e estética e professora na Universidade do Porto, explica à SIC Notícias o que é a 'doença das pernas gordas' - como também é conhecida - e como diferenciá-la da celulite.

Lipedema: nove questões sobre a doença que afeta milhões de pessoas© Canva

Sente as pernas pesadas, tem dor ao toque, fica com hematomas facilmente e inchaço frequente? Estes podem ser sinais de lipedema, uma condição que não tem cura e que afeta, sobretudo, mulheres. A especialista em cirurgia plástica, reconstrutiva e estética Rita Valença responde a nove questões sobre esta 'nova' doença.

O que é o lipedema?

É uma doença crónica e progressiva, caracterizada pela acumulação anormal e simétrica de gordura, principalmente nos membros inferiores (coxas, pernas e tornozelos) e braços.

O lipedema pode provocar dorsensibilidade ao toque e uma maior tendência para desenvolver hematomas facilmente.

Apesar de afetar milhões de pessoas, quase exclusivamente mulheres, o lipedema ainda é subdiagnosticado e, frequentemente, confundido com obesidade ou celulite, tendo sido oficialmente reconhecido como doença apenas em 2018.

‼️ É importante perceber que o lipedema não é causado pelo excesso de peso, embora possa coexistir com obesidade.

Quais as diferenças entre lipedema e celulite?

Embora ambas as condições envolvam alterações na gordura subcutânea, o lipedema é uma doença e a celulite é uma condição estética.

No lipedema, a gordura é distribuída de forma simétrica e progressiva e está associada a dorsensação de pesohematomas fáceis e, em estágios mais avançados, a limitações funcionais.

Já a celulite afeta principalmente a aparência da pele (aspeto ondulado, “casca de laranja”) na zona dos glúteos e face posterior das coxas, e não provoca dornem alteração funcional significativa.

Lipedema: nove questões sobre a doença que afeta milhões de pessoas© Canva

Que partes do corpo podem ser afetadas?

O lipedema afeta, sobretudo, os membros inferiores, desde as ancas até aos tornozelos, poupando os pés - um sinal característico da doença.

Em alguns casos, os braços também podem ser afetados, mas nunca as mãos, o que ajuda a distinguir o lipedema de outras condições, como o linfedema ou a obesidade.

Quais os sinais de alerta?

  • Aumento desproporcional e simétrico do volume nas pernas ou braços;
  • Dor frequente e sensibilidade ao toque;
  • Sensação de peso, fadiga nas pernas, mesmo sem esforço físico intenso;
  • Pés e mãos sem inchaço;
  • Facilidade em desenvolver hematomas.
Lipedema: nove questões sobre a doença que afeta milhões de pessoas© Canva

Como é que a alimentação e exercício físico impactam a doença?

Embora a gordura lipedémica não responda bem à dieta tradicional, uma alimentação anti-inflamatória (rica em vegetais, proteínas magras e alimentos naturais, com baixo teor de carboidratos refinados e ultraprocessados) pode ajudar no controlo da dor e do inchaço.

Além disso, exercícios de baixo impacto, especialmente os realizados na água, são essenciais para manter a circulação e evitar o agravamento da doença.

Como é feito o diagnóstico?

diagnóstico é clínico, baseado na história clínicaexame físico e sintomas relatados.

Exames de imagem como ecografia com doppler e, especialmente, a linfocintilografia e a ressonância magnética, podem ser utilizados para excluir outras condições, como linfedema.

Que tratamentos existem?

O lipedema não tem cura, uma vez que é uma condição crónica. No entanto, existem opções que melhoram os sintomas e a qualidade de vida:

  • Tratamento conservador: inclui drenagem linfática manual, outras tecnologias e uso de meias de compressão, com orientação e supervisão por um fisioterapeuta especializado;
  • Mudanças no estilo de vida: alimentação anti-inflamatória e atividade física de baixo impacto, como natação, hidroginástica e caminhadas;
  • Lipoaspiração especializada: em casos mais avançados, a lipoaspiração tumescente ou assistida por água (WAL) pode remover a gordura do lipedema de forma segura, aliviando dor e melhorando a mobilidade.

E se não tratar o lipedema?

"Sem tratamento, o lipedema pode evoluir para estádios mais graves, levando à imobilidade, deformidade dos membros, dor crónica, linfedema secundário (lipolinfedema) e impacto psicológico severo, incluindo depressão e isolamento social", explica à SIC Notícias a especialista em cirurgia plástica, reconstrutiva e estética.

Que especialidade procurar?

O tratamento do lipedema envolve várias especialidades. O diagnóstico e abordagem da doença é, muitas vezes, feito inicialmente por um angiologista ou cirurgião vascular, profissionais especializados em doenças circulatórias e linfáticas.

No entanto, o papel do nutricionistaendocrinologistacirurgião plástico fisioterapeuta é igualmente crucial para o acompanhamento e controlo da doença.

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