O Psicólogo Responde: como reencontrar motivação nos dias vazios?


Motivação

Quando a vida perde a cor, como reencontrar motivação nos dias vazios? Há dias em que acordar parece um esforço sobre-humano. Nada entusiasma. Nada apetece. O mundo continua a girar, mas, por dentro, tudo parou. Nem os planos, nem os afetos, nem o futuro parecem ter sabor. É como se a pessoa perdesse o seu lugar na própria vida.

Será que este vazio é raro? Não. E não é sinal de fraqueza. Acontece – mesmo às pessoas mais fortes, mais bem-sucedidas, mais conscientes. E, quando acontece, deixa uma sensação de paralisia, como se alguém olhasse para a sua existência e ela já não dissesse nada.

Quando a motivação desaparece, a vida parece ter apenas uma cor: cinzento. É como se toda a energia fosse sugada para o que está mal, deixando o resto invisível. Mas será realmente assim?

Imagine que a vida é como um cubo com seis faces. Cada uma representa uma dimensão essencial da existência, cada face uma possibilidade. Quando alguém está bem, sente o cubo inteiro. Ele gira com fluidez. Mas, quando a motivação desaparece, é como se ficasse preso a olhar apenas para uma das faces – geralmente aquela que mais inquieta ou magoa.

Se o foco estiver, por exemplo, na face do trabalho e este não estiver a correr bem, poderá parecer que toda a vida está a falhar. Mas essa é apenas uma parte do todo. Onde está o seu foco agora? Consegue ver mais além?

O foco tem um impacto enorme na forma como se interpreta a realidade. Quando está dirigido apenas para o que está mal, a visão encolhe, o pensamento fecha-se e o corpo entra em modo de sobrevivência. É como usar uns óculos com um filtro que não deixa ver mais nada.

Mas o foco não é apenas para onde se olha, é também onde se investe energia. E quando toda essa energia vai para a parte que dói, a motivação perde-se e esquecem-se outras partes que ainda respiram, que ainda têm possibilidade de ser felizes.

Qual a chave para sair deste estado? Mudar o ângulo. Girar o cubo. Voltar a ver que há áreas que continuam vivas, mesmo que discretas. Mudar a perspetiva. Pegar no que ainda é funcional e reinventar a existência.

Será possível fazer isso sozinho? Talvez sim, mas outras vezes é necessário procurar ajuda – da família, de amigos ou de profissionais de saúde, como um psicólogo, que pode ajudar nesses momentos de crise a reencontrar motivação e novas formas de ser feliz.

Um psicólogo pode apoiar na compreensão da situação e ajudar a inverter o foco, para que seja possível olhar o mundo e ver outros caminhos e soluções, adotando novas formas de estar na vida.

Mas o que significa inverter o foco? Significa encontrar uma visão positiva que não nega a dor, nem finge que tudo está bem. Significa ter coragem para procurar, com honestidade, o que ainda está inteiro dentro de si, reparando ou eliminando o que está danificado.

É resgatar os pedaços de sentido que continuam ali, à espera de serem ativados, e reconstruir o puzzle de forma melhorada. Esta visão positiva não tira a tristeza num salto, mas dá um eixo para se mover por dentro. E, por vezes, será isso tudo o que se precisa para sair da falta de motivação para a vida.

Se está num momento em que nada o motiva, experimente este exercício simples, mas profundo:

Imagine que a sua vida é um cubo. Onde está agora o seu foco? O que o incomoda nessa face? O que pode fazer para melhorar? Quais as outras faces que continuam vivas ou tranquilas? O que sempre sonhou e o que hoje o faria sorrir, nem que fosse um pouco? Qual o primeiro pequeno passo que pode dar hoje para girar o cubo?

Inclua no seu plano diário tempo só para si, cuidados com a saúde física e mental, refeições completas e nutritivas, uma boa hidratação, caminhadas na natureza, contacto com animais (se o fizer sentir bem), momentos de sorriso e música que o acalmem ou animem, dança, exercício físico, convívio com amigos.

Será possível mudar tudo de uma vez? Provavelmente não. Mas pode mover o seu cubo – e isso já é um princípio. Com calma, persistência e apoio psicológico sempre que necessário, será possível chegar ao objetivo.

Quando não conseguimos mudar o que sentimos, podemos mudar para onde olhamos.

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