O Psicólogo Responde: A solidão pode ser prejudicial para a saúde mental? Como lidar?

 Todos nós, em algum momento da nossa vida, já nos sentimos sós. Não estamos a falar de estar fisicamente sozinhos, mas da solidão que sentimos, mesmo estando rodeados de pessoas. É a sensação de desconexão, de ausência de vínculos verdadeiros. A ciência tem vindo a mostrar que essa solidão, de forma persistente, pode afetar profundamente a saúde mental.

A solidão não é apenas "estar sozinho" – é sentir que não existem ligações significativas. É um sentimento subjetivo, muitas vezes invisível aos olhos dos outros, mas que pode impactar negativamente a qualidade de vida.

Quando esta solidão se prolonga no tempo, pode desencadear emoções como tristeza profunda, ansiedade, baixa autoestima, perturbações do sono e até depressão. Estudos recentes sugerem que esta solidão patológica, poderá representar riscos para a saúde, equivalentes a fumar 15 cigarros por dia ou a viver com obesidade crónica.

Paralelamente ao desconforto emocional, a solidão pode também gerar alterações físicas, tais como alterações hormonais, aumento dos níveis de stress e alterações ao nível do sistema imunitário.

Por conseguinte, a verdade é que todos podemos sentir-nos sós – mas há momentos da vida ou grupos que estão mais vulneráveis, nomeadamente, adultos mais velhos, que muitas vezes enfrentam perdas dos seus significativos, perda de mobilidade, multipatologias ou isolamento. Paralelamente, muitos adolescentes e jovens, com relações sobretudo através de redes sociais, relatam sentir-se desajustados emocionalmente. Também a população migrante, muitas vezes com obstáculos culturais, linguísticos e sem rede de apoio experienciam solidão. Pessoas com doenças mentais, que muitas vezes se retraem por medo do estigma.

A solidão não escolhe idade, género ou condição. Todos nós podemos estar permeáveis à solidão, em algum momento ao longo da nossa vida.

Como podemos combater a solidão?

Não há uma receita milagrosa, contudo, há algumas estratégias que podem ser adotadas:

Aceitar o sentimento

O primeiro passo é reconhecer: “estou a sentir-me só”. Sem julgamentos.

Cuidar das ligações sociais

Procurar reativar amizades antigas. Participar em grupos ou atividades prazerosas. Mesmo um “olá” ao vizinho ou à senhora da mercearia pode fazer diferença no dia-a-dia. Resgatar laços que possam ter sido quebrados, ou simplesmente aceitar ajuda de amigos e familiares.

Investir no autocuidado

Aprender a estar bem consigo próprio. Cuidar do corpo e da mente. Atividades como a escrita, a meditação, estar em contacto com a natureza ou ver o pôr do sol são atividades simples, mas que têm um efeito positivo.

Contrariar pensamentos negativos

A solidão prolongada pode levar a pensamentos de autodepreciação. Aprender a reconhecer esses pensamentos e a ressignificá-los é um passo importante.

Pedir ajuda profissional

Quando a solidão se instala de forma continua e persistente, a comprometer a saúde mental e a qualidade de vida, deve procurar-se ajuda de profissionais devidamente qualificados e credenciados, como os psicólogos.

Combater a solidão não é apenas “arranjar companhia”. É um processo de reconexão connosco próprios, com os outros e com o mundo. É aprender a estar presente, a criar laços significativos e a encontrar sentido. Pode não ser fácil. Mas é possível. E vale muito a pena.

Se se sente sozinho neste momento, lembre-se: não está sozinho(a). Milhares de pessoas estão a passar por isso, em silêncio. Dar um pequeno passo – um telefonema, uma conversa, um pedido de ajuda – pode ser o início de uma grande mudança.

Cristiana do Nascimento
Psicóloga e membro da direção da Ordem dos Psicólogos Portugueses

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