Emoções e Saúde Mental: Como Esta Ligação Afeta o Nosso Bem-Estar

As emoções fazem parte da nossa vida diária, influenciam decisões, relacionamentos e até a nossa saúde física. Mas, cada vez mais, a ciência tem mostrado que emoções e saúde mental estão profundamente ligadas, sendo impossível cuidar de uma sem considerar a outra.
Num mundo acelerado, com níveis crescentes de stress, ansiedade e burnout, compreender esta ligação tornou-se essencial para preservar o bem-estar e prevenir problemas psicológicos.
Como as emoções influenciam a saúde mental
As emoções funcionam como sinais de alarme ou de recompensa que ajudam o cérebro a priorizar ações. Emoções como alegria, orgulho ou gratidão podem reforçar comportamentos saudáveis e criar resiliência. Já emoções como tristeza, raiva ou medo, quando persistem sem regulação adequada, podem contribuir para problemas como depressão, ansiedade e stress crónico.
Um estudo publicado no Journal of Abnormal Psychology (2019) revelou que pessoas com maior dificuldade em identificar e regular emoções apresentam risco até três vezes superior de desenvolver transtornos de humor. Isto acontece porque emoções mal geridas aumentam a ativação fisiológica (coração acelerado, tensão muscular) e mantêm o corpo num estado de alerta constante, sobrecarregando a saúde mental.
O papel da regulação emocional
A regulação emocional é muito mais do que “controlar” as emoções, é um processo ativo que começa por reconhecer o que estamos a sentir, compreender de onde vem essa emoção e, depois, escolher como queremos reagir. É como ter um “painel de controlo interno” que nos permite ajustar a intensidade e a forma como expressamos as nossas reações.
Esta competência é considerada um verdadeiro fator protetor para a saúde mental. Pessoas que sabem regular as suas emoções tendem a recuperar mais rapidamente de situações stressantes, a evitar conflitos desnecessários e a manter relações mais estáveis. Não é por acaso que a regulação emocional está no centro de qualquer modelo de inteligência emocional bem estabelecido.
De acordo com a investigação de James Gross, professor de Psicologia na Universidade de Stanford e referência mundial no tema, existem várias estratégias eficazes de regulação. Entre as mais estudadas estão:
- Reavaliação cognitiva – consiste em reinterpretar uma situação para que esta pareça menos ameaçadora ou mais construtiva. Por exemplo, em vez de pensar “o meu chefe está contra mim”, reformular para “ele está a pressionar porque o prazo é apertado”. Esta mudança de perspectiva reduz a intensidade emocional e ajuda a manter clareza mental.
- Aceitação emocional – significa permitir-se sentir a emoção sem tentar suprimi-la ou julgá-la. Aceitar que “neste momento estou ansioso” ou “sinto-me frustrado” ajuda a diminuir a resistência interna e, consequentemente, o impacto negativo que essa emoção pode ter a longo prazo.
Emoções positivas também protegem a mente
As emoções positivas não são apenas “sensações agradáveis”, funcionam como recursos psicológicos. A psicóloga Barbara Fredrickson, da Universidade da Carolina do Norte, demonstrou na sua teoria do ampliar e construir (broaden-and-build theory) que sentimentos como alegria, gratidão ou esperança ampliam a nossa capacidade de pensar, resolver problemas e agir de forma criativa.
Com mais espaço mental e emocional, conseguimos também construir relações de apoio e fortalecer “reservas” internas que nos ajudam a enfrentar períodos de dificuldade. Pequenas práticas diárias de emoções positivas podem ter efeitos concretos:
- Gratidão – escrever, todos os dias, três coisas pelas quais nos sentimos gratos está associado a melhor qualidade de sono e redução de sintomas depressivos.
- Orgulho saudável – reconhecer um progresso pessoal ou uma conquista aumenta a motivação para continuar a investir no objetivo.
- Esperança – manter uma visão otimista e realista sobre o futuro ajuda a sustentar o esforço mesmo quando os resultados ainda não são visíveis.
Emoções negativas: vilãs ou aliadas?
Embora muitas vezes sejam vistas como “inimigas do bem-estar”, as emoções negativas têm funções adaptativas importantes. O medo pode salvar vidas ao alertar-nos para um perigo iminente, a raiva pode servir como motor para corrigir injustiças, e a tristeza pode sinalizar que precisamos de parar, refletir ou pedir apoio.
O desafio está na duração e intensidade dessas emoções. Quando são demasiado frequentes ou prolongadas e não existem estratégias para as gerir, podem levar ao desgaste emocional, aumentar a ansiedade ou até desencadear problemas de saúde mental mais graves.
Para evitar que isso aconteça, entram em ação competências como:
- Autocontrolo emocional – escolher conscientemente como reagir, evitando respostas impulsivas.
- Mindfulness – manter a atenção no momento presente para observar pensamentos e emoções sem se deixar arrastar por eles.
- Apoio social – falar com alguém de confiança para aliviar a carga emocional e obter perspetivas diferentes sobre a situação.
No fundo, todas as emoções têm um papel. O segredo não está em eliminar as negativas, mas sim em aprender a interpretá-las e a usá-las como informação para tomar decisões mais equilibradas e cuidar melhor da nossa saúde mental.
Como cuidar das emoções para proteger a saúde mental
- Reconhece e nomeia o que sentes
Estudos mostram que rotular as emoções (“estou ansioso”, “sinto-me frustrado”) ajuda a ativar áreas do cérebro ligadas ao raciocínio e reduz a reatividade emocional. - Pratica regulação emocional diária
Respiração profunda, pausas conscientes ou escrever num diário emocional são ferramentas simples para reequilibrar o estado emocional. - Cultiva emoções positivas
Criar rituais de gratidão, momentos de lazer e conexão com pessoas próximas aumenta a resiliência psicológica. - Cuida do corpo para cuidar da mente
Exercício físico regular, sono de qualidade e alimentação equilibrada têm impacto direto na estabilidade emocional. - Procura apoio quando necessário
Psicoterapia ou grupos de apoio podem ajudar a desenvolver novas estratégias emocionais e prevenir o agravamento de sintomas.
O impacto no ambiente de trabalho
As organizações estão cada vez mais atentas à relação entre emoções e saúde mental. Ambientes que incentivam a expressão saudável das emoções e oferecem programas de desenvolvimento de competências emocionais tendem a apresentar:
- Menor absentismo.
- Maior produtividade.
- Melhor clima organizacional.
Implementar programas de inteligência emocional no trabalho é uma das estratégias mais eficazes para promover saúde mental coletiva e prevenir burnout.
Conclusão
As emoções são muito mais do que reações momentâneas, são parte ativa na construção da nossa saúde mental. Cuidar delas é investir no equilíbrio psicológico, na resiliência e na qualidade de vida.
Quanto mais aprendermos a reconhecer, compreender e regular o que sentimos, mais preparados estaremos para enfrentar os desafios diários sem comprometer o nosso bem-estar.



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