Porque não conseguimos viver sem café? Os segredos da ciência e uma história antiga


 O café é a segunda matéria-prima mais transacionada em todo o planeta, atrás apenas do petróleo. Em Portugal, 80% das pessoas bebem pelo menos uma chávena diariamente. O que explica este sucesso mundial?

Café© limpido

O mundo consome cerca de 2,5 mil milhões de chávenas por dia. Beber café é quase um ritual de passagem para a vida adulta, embora muitos comecem ainda na adolescência. Em Portugal, 80% das pessoas bebem café diariamente, segundo a Associação Industrial e Comercial do Café - e há quem seja mais fã da tradicional bebida de todas as manhãs.

Enquanto em Portugal, cada pessoa consome, em media, 5kg de café por ano, esse número per capita ultrapassa os 10kg na Finlândia, que lidera o ranking. Os outros países nórdicos, Noruega, Islândia, Suécia e Dinamarca, estão também no topo da lista, de acordo com um relatório da European Coffe Federation.

O café é a segunda matéria-prima mais transacionada em todo o planeta, atrás apenas do petróleo. Mas o que explica este sucesso mundial?

O efeito químico

Vários estudos, publicados ao longo dos anos, provam que o consumo moderado de café traz uma série de benefícios para a saúde (até para a expectativa de vida), principalmente se ingerido pela manhã. Mas os efeitos mais destacados são aqueles que são sentidos no dia a dia: a capacidade de aumentar os níveis de energia e concentração. É por isso que é tão comum beber um chávena para 'acordar'.

Este fenómeno deve-se à cafeína, um estimulante natural presente no café que bloqueia o neurotransmissor inibitório do cérebro, a adenosina, que quando se acumula promove o sono e suprime a excitação. Como consequência da ingestão da bebida, aumentam os disparos neuronais e a libertação de neurotransmissores como a dopamina e a norepinefrina.

É uma espécie de truque bioquímico: a energia não é reposta, mas existe uma sensação de elevada disposição enquanto os sinais de cansaço são inibidos.

Segundo um estudo publicado na revista científica Jama Network Open, uma dose de 40 a 200 miligramas de cafeína (uma ou duas chávenas de café) é o suficiente para 'despertar' o cérebro. Os participantes relataram maior disposição, menos fadiga e responderam mais rapidamente a tarefas que exigiam atenção e coordenação.

O prazer e a história

No entanto, o café também está ligado ao prazer. Muitas pessoas que bebem café regularmente já não sentem de forma tão acentuada os seus efeitos, como várias pesquisas apontam, mas continuam a apreciar a bebida. A cafeína é capaz de libertar neurotransmissores como a dopamina, responsável por sensações de bem-estar e motivação.

Além disso, há um fator cultural e histórico. Foi na Etiópia, entre 1490 e 1640, que os portugueses tiveram o primeiro contacto com o hábito de beber café, que tornar-se-ia popular na Europa a partir do século XVII. A instalação no cotidiano das sociedades torna quase inevitável que, pelo menos, se prove uma chávena de café em algum momento da vida.

Uma dose diária moderada não deve ultrapassar mais do que 400mg de cafeína, segundo a Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA. Em Portugal, onde o café expresso é o favorito da maioria, é difícil calcular a quantidade ideal de café, já que as cápsulas possuem diferentes níveis de cafeína. Estima-se que até três ou quatro cápsulas seja um consumo moderado.

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