Sabias que Gritar pode Aumentar mais a Irritação?
Muitos de nós já sentimos isto: soltar um grito, sozinho no carro ou no meio da natureza, parece libertar um peso.
Há quem chame a isso scream therapy, a ideia de que gritar ajuda a libertar emoções reprimidas.
E, de facto, a sensação imediata faz sentido.
Quando gritas, o corpo liberta tensão muscular, a respiração muda e o sistema nervoso diminui momentaneamente a ativação. Durante alguns segundos, parece que tudo ficou mais leve.
Mas o que acontece depois?
A investigação tem mostrado que este alívio é apenas temporário. Estudos sobre o chamado catharsis model, a ideia de que "descarregar" emoções negativas as torna menos intensas mostram que, embora possa haver uma sensação inicial de libertação, o efeito tende a ser de curta duração.
Em alguns casos, "ventilar" raiva, frustração ou medo de forma repetida pode até reforçar os circuitos neuronais associados à agressividade e aumentar a probabilidade de voltar a reagir da mesma forma no futuro.
É o que se chama de ciclo de descarga emocional: a tensão acumula, gritas, alivia… e pouco depois, volta.
Então, gritar faz bem ou mal?
A resposta, como quase sempre na psicologia, é: depende.
Como recurso pontual, pode ajudar a aliviar e até a ganhar alguma clareza momentânea.
Mas, como hábito, não é eficaz nem sustentável.
Estratégias que reduzem a ativação emocional e trabalham a regulação de forma mais profunda, tal como respirar conscientemente, praticar mindfulness, fazer exercício físico, escrever sobre o que se sente ou conversar com alguém, têm efeitos mais consistentes e duradouros.
Estas práticas ajudam a reconectar o corpo e o cérebro, e não apenas a descarregar energia acumulada.
O grito, no fundo, pode ser um atalho emocional, mas não substitui o verdadeiro trabalho interior: aprender a reconhecer o que sentes, dar nome à emoção, regular a resposta e transformar essa energia em algo construtivo.
Claro que é mais fácil gritar do que refletir.
Mas se fizermos sempre o que é mais fácil a curto prazo, tornamo-nos menos preparados para lidar com o que realmente importa a longo prazo.



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